o que eu aprendi com the last of us part I
Por muito tempo, tenho lutado para sobreviver. E você... Seja o que for, você sempre encontra um motivo para viver.
“Sabe, por pior que aquelas coisas sejam, pelo menos são previsíveis. São as pessoas normais que me assustam.”
Ao jogar The Last of Us, mergulharmos no devastador cenário pós-apocalíptico. Onde há pessoas infectadas de vários níveis de perigo e, grupos de sobreviventes que conseguem ser os piores inimigos que os acometidos pelo fungos cordyceps.
O mundo destruído, espelha, de muitas maneiras, o caos interno e externo que vivemos no cotidiano. Ele mostra que, em meio a essa catástrofe, a luta pela sobrevivência se mistura com as complexidades emocionais que nos tornam humanos.
O cordyceps no jogo é uma versão fictícia do mesmo cordyceps real que afeta apenas pequenos artrópodes. Em The Last of Us, o fungo leva à total desintegração da pessoa infectada com estágios de evolução dos infectados. Eles começam como corredores, ainda com alguma capacidade de movimento e cognição, mas com o tempo se transformam em perseguidores, estaladores, baiacus, e trôpegos, dependendo do estágio da infecção. O jogo usa o fungo como uma metáfora para a perda de controle e a luta pela sobrevivência. Porém, não é só disso que The Last of Us nos fala.
No primeiro jogo, o Joel é o personagem principal. Um homem endurecido pela vida por perder a filha, Sarah, no dia em que começou o surto do fungo. Ele e seu irmão, Tommy, estão em completo desespero para sobreviver, mas para principalmente, deixar Sarah viva. Nos deparamos com o primeiro perigo que nós, nesse mundo que vivemos, enfrentamos: o ser humano. Joel, enquanto tentava carregar a filha com o pé fraturado, fugindo de infectados que, naquele momento, ele não fazia ideia do que era, se depara com um militar e em seu desespero para salvar a própria filha, pede ajuda. Ele só não esperava que ela seria morta por este homem que deveria o ajudar.
Nesse momento, Joel perdeu sua única fonte de felicidade, Sarah, e dias após isso, nunca mais viu seu irmão.
20 anos após o surto, Joel é um contrabandista, duro e carrancudo. Nada mais o tira um sorriso ou lhe causa empatia.
Left Behind: Nós éramos só duas garotas se divertindo... até não sermos mais.
Há um milhão de maneiras que poderiam nos ter feito morrer antes de hoje. E um milhão de maneiras que poderiam nos fazer morrer antes de amanhã. Mas nós lutamos, por cada segundo que passamos juntas. Quer sejam dois minutos, quer sejam dois dias, não desistimos disso. Eu não quero desistir disso.
Simultâneo a isso, temos Ellie com 14 anos. Ela é uma menina que cresceu no mundo destruído. Ela não pôde andar de bicicleta em uma praça pública ou ir para a escola como uma criança normal. Nunca saiu da quarentena e seguiu treinamento militar para trabalhar na FEDRA — uma organização militar do controle de fungos. Isso não significa que ela se tornaria militar, poderia ser apenas uma pessoa que limparia os esgotos ou entregaria comida para pessoas de alto escalão. Ellie perdeu a mãe assim que nasceu, então cresceu órfão em um mundo que não entendia e que não a entendia.
Foi em uma fuga com sua melhor amiga, Riley, — que até então, havia fugido da FEDRA para lutar por algo maior — que ela viu o mundo que poderia ter visto antes de todo o caos. Riley é uma menina mais velha, tem 16 anos e Ellie a admira tanto que não sabe dizer se o que sente é só isso ou algo mais.
Em meio as paredes de concretos, armas militares e regras, as duas fogem para um lugar “especial”. Um shopping que Riley sabe ter energia e estar limpo de todos os infectados, apesar de ter acesso proibido. Nesse lugar, ela apresenta locais em que sabe que sua melhor amiga, Ellie, irá amar. Um carrossel que Ellie nunca sonhou existir e até aquele momento era a coisa mais incrível que já viu; uma máquina de fotos para que elas guardassem essa memória juntas; uma loja de halloween, já que a era a data comemorativa favorita de Ellie porque ela adorava filmes de terror; um fliperama porque ela sempre amou heróis e videogame, mesmo que nunca pudesse ter acesso a eles. E no fim, uma brincadeira com arminhas d’água assim como Ellie sempre quis.


Na série lançada em 2023, quando as duas estão no shopping e Riley liga as luzes, o jogo de luzes nos mostra a bandeira lésbica. As cores rosa, branco e laranja iluminando toda a paisagem enquanto temos Ellie no meio dela. Tanto no jogo quanto na série, a pequena menina de 14 anos ainda não faz ideia do que ela sentia por Riley. E nesse curto momento de felicidade, nós esquecemos que o mundo em que estamos ali, existe. Assim como Ellie esquece. O que são os infectados? O que são os militares? Quais são os perigos? Por que a Riley esteve tão longe?
Você jogando e assistindo, sabe que Ellie, muito provavelmente, sente algo pela melhor amiga, mas ela, ali presente, não faz ideia.
Ela só sabe que sentia falta de Riley. Ela questiona por onde a melhor amiga andou e quando descobre que estava com supostos inimigos da FEDRA, Ellie não pode acreditar. Ela não conhecia os Vagalumes, apenas sabia que eles estavam malucos procurando a cura do fungus. Por que então eram vistos como inimigos?
No meio desse momento feliz, Ellie não pode deixar de pensar da falta que Riley faz em sua vida, e então, questiona, quase como se fosse impossível deixar isso dentro de si mesma:
"Você sumiu. Eu passei semanas achando que você estava morta!"
"Desculpa."
"E então você aparece de repente e me diz que faz parte desse grupo militar e… me convida para fugir com você?"
"Eu não tinha escolha, Ellie!"
"Claro que tinha! Você podia ter ficado!"
"E eu queria, mas… eles me encontraram. E eu… e eu tava cansada de me sentir inútil."
"E então você só… foi embora."
Minutos depois a isso, Ellie dá o braço a torcer e elas voltam a explorar o shopping. Logo, elas estão brincando de esconde-esconde com a arminha de d’água e segundos depois disso, estão dançando em cima de um balcão. É nesse momento em que Riley fala que não quer ir embora.
“Quem sou eu para impedi-la?”, Ellie pergunta sem o mínimo de esperança.
“A única pessoa que pode fazer isso”
Depois de mentir falando que a amiga poderia ir, ela pede para que Riley fique. Ela aceita. Largaria os Vagalumes, para que ficasse com a melhor amiga. Tudo está perfeito e Ellie sente coragem de beijá-la. O mundo é colorido. Os infectados não existem. E ela estão juntas. Tudo parece ser tão rosa, branco e laranja que ela mal nota quando uma horda imensa de infectados atinge o seu mundo perfeito.
Um segundo atrás, ela teve coragem de beijá-la, no segundo seguinte, ela está com uma mordida no braço, enquanto sua menina está com uma na mão.
As duas estão em desespero, mas Riley sempre foi mais racional que Ellie. Elas não querem morrer, Ellie quer, desesperadamente, viver. Principalmente agora que ela beijou a amiga e que conseguiu convencê-la de ficar. Por que tudo mudou tão de repente? E o mundo perfeito? Ele não existe mais?
É quando Riley, com um sorriso, em meio a lágrimas fala:
"Podemos ser poéticas e enlouquecer juntas."
Só que não é isso que acontece. Riley de fato se transforma em um corredor. A menina cheia de vida, corajosa e fodona — como Ellie a via —, agora é apenas um infectado tomado pelo cordyceps, assim como qualquer outro. E Ellie, uma menina tímida, cheia de questões, brincalhona e impulsiva, é uma sobrevivente. O fungo não a afetou e ela teve que deixar para trás sua melhor amiga e seu primeiro amor.


A história de Ellie e Riley reflete o que significa crescer em um mundo que parece desmoronar. É sobre a descoberta do amor e da perda de uma maneira que não deveria ser necessária para ninguém. É sobre o agora e o depois. Sobre o controle e o descontrole. A analogia aqui é sobre como as circunstâncias da vida, muitas vezes imprevisíveis e fora de nosso controle, moldam o modo como vemos o mundo, como nos relacionamos com os outros, e como percebemos quem somos. Para Ellie, a guerra, a perda, e o luto são a realidade que ela conhece, e isso a forja como uma pessoa resiliente, mas ao mesmo tempo, extremamente pessimista, marcada por uma vulnerabilidade que ela nem sequer entende completamente.
Sua relação com Riley, e os momentos de felicidade efêmera no shopping, são como aquelas raras fugas que todos buscamos da realidade difícil e das pressões da vida. Quando Ellie tem coragem de beijar Riley, ela está experimentando pela primeira vez algo tão puro e cheio de esperança que parece ser uma resposta a toda a dor e o vazio do seu mundo. E, ao mesmo tempo, os momentos em que nos permitimos viver no presente, sem medo do futuro, sem olhar para trás. Ela não sabe o que sente, ela não tem palavras para descrever o que sente. O mundo não a ensinou a viver. Mas a vida a força a compreender isso de uma maneira que ela jamais imaginaria. E ela só se dá conta, quando a beija e quando a perde no mesmo instante.
E quando Riley se transforma, ela não enfrenta só a perda da melhor amiga, mas a perda da sua primeira possibilidade de entender a si mesma. É como os momentos em que, na vida real, perdemos a inocência, ou quando somos forçados a crescer e amadurecer muito rápido, sem o tempo ou o espaço para lidar com essas mudanças. A transição de Ellie de uma criança cheia de esperança para uma sobrevivente solitária é como as transições dolorosas que todos enfrentamos em algum momento da vida, seja pela perda, pela mudança ou pela descoberta de uma nova identidade que não estava no roteiro original.
Entre o medo e a perda.
Uma mês após isso, temos Joel. Ele recebe a ordem de levar uma menina chamada Ellie, que tem a mesma idade que sua filha Sarah, para o outro canto dos EUA. Para um grupo chamado “Vagalumes”.
Aparentemente a pequena Ellie é imune ao fungo. A garota não é tão cheia de vida quanto era antes, mas ela sabe muito bem esconder tudo o que lhe ocorreu. Ela adora piadinhas, é curiosa e muito corajosa. Joel, por outro lado, só a vê como uma carga. Junto dele, temos Tess, sua melhor amiga e também contrabandista. Ela é quem o ensinou tudo. Desde como fazer os inimigos falarem, até como sobreviver fora dos muros da quarentena. Logo, ele deve a sua vida à Tess. Porém, no meio dessa jornada para levar a garota até o outro lado desse enorme país americano, Tess é mordida, e Ellie sentiu, naquele momento, que seu propósito era ainda maior. Ela era imune, eles fariam uma vacina e ninguém mais morreria.
Essa jornada é marcada por lutas e perdas.


Em um momento de desespero, onde Joel se machuca, Ellie precisa ajudá-lo e está apavorada de perdê-lo. No meio desse processo, ela começa a ter flashback de sua ida ao shopping com Riley. Logo, ela se depara com um homem chamado de David que tem discursos bonitos e promessas de ajuda. Mesmo que não fosse uma menina inocente e soubesse muito bem usar uma arma, inclusive, o ameaça com uma espingarda, ainda sim, é uma garota de 14 anos e acaba sendo levada por ele e seus homens. Ela se vê presa um lugar cercado de pessoas que acreditam que este homem é um profeta e essa situação inteira é carregada de analogias de canibalismo e pedofilia.
Ellie tem que enfrentar David que a persegue com palavras de duplo sentido, e enquanto isso, Joel, machucado, se atreve ir atrás dela e mesmo com um ferimento enorme na barriga, a encontra. Por sorte, Ellie é corajosa o suficiente para se proteger de David, matando-o de maneira brutal. Esse acontecido gira uma chave em sua cabeça, tornando-a introspectiva e deixando de ser a menina brincalhona que tirava a paciência de Joel durante toda essa viagem.
Após esse evento traumático, os dois encontram Henry e Sam, dois irmãos de 28 anos e 12 anos, respectivamente. Eles estão tentando sobreviver como qualquer outra pessoa. Sam também cresceu no momento destruído assim como Ellie, a diferença é que ele é deficiente auditivo e é muito mais difícil para ouvir os perigos que o cercam — que de novo, não são apenas os infectados. Mas, ele e seu irmão mais velho, conseguem adaptar tudo para que seja mais fácil para Sam. No entanto, é no meio de um caos contra seres humanos e doentes que eles encontram um lugar para passar a noite. Ellie, feliz por ter alguém próximo a sua idade, conversa, de maneira escrita, com Sam. Ele está apavorado e eles tem um diálogo que não marcou apenas a pequena Ellie, mas também, todo jogador e telespectador que presenciou:
“Do que você tem medo?” Sam escreve.
“Escorpiões são muito assustadores…” ela pondera, talvez tenha dito aquilo apenas para amenizar a situação. “Ficar sozinha. Tenho medo de acabar sozinha”.
No dia seguinte após a conversa, Sam, de apenas 12 anos, se transforma em um corredor. Ellie enfrenta outra perda de alguém que ela tinha certeza poder salvar. Henry, seu irmão mais velho, acaba atirando na própria cabeça, sem motivo algum para continuar nesse mundo destruído.
Eles seguem a jornada até os Vagalumes e quando Joel finalmente encontra seu irmão Tommy. Ele não se sente tão preparado assim para levar a pequena Ellie, na verdade, ele sente que não está tão rápido quanto era no começo dessa jornada. E assim, ainda carregado pela falta de empatia, pela perda da filha que provavelmente nunca superará, e por um mundo em que ele viu se degradar, discute com Ellie que naquele momento, já o via como um pai. Na verdade, ele até que sentia uma vontade, quase que uma necessidade paternal, de proteger a menina. Mas não poderia deixar, então, ele decide que seria melhor que Tommy, seu irmão, levasse-a. É nesse momento que eles tem um dos maiores diálogos do jogo:
“Eu sinto muito pela sua filha, Joel, mas eu perdi pessoas também”, Ellie segurava um diário que encontrou em uma casa abandonada.
“Você não faz ideia do que é perder”, Joel, claramente na defensiva, não hesita em usar palavras cruéis.
“Todas as pessoas que eu gostavam morreram ou me deixaram! Todo mundo,”, ela o empurra, irritada. “Menos você! E não diga que eu ficaria mais segura com outra pessoa, porque na verdade eu só estaria com mais medo!”
“Você não é minha filha. E eu, com certeza, não sou seu pai e nos vamos nos separar”.
É claro que Joel não deixaria Ellie para trás depois de vê-la naquela situação. E não é que ele quisesse deixá-la, apenas queria que o sentimento paternal que crescia em seu peito parasse e que a menina chegasse em segurança.
Joel e Ellie continuam a jornada. Quando finalmente chegam ao hospital onde estão os Vagalumes, Joel se vê apegado a menina. Ele descobre que para que para ter a suposta vacina, Ellie precisaria morrer. E mesmo assim, não era certeza que essa vacina daria certo. No entanto, ele não permite e causa o maior massacre no meio do hospital. Tirando das pessoas a esperança de um mundo melhor. No entanto, quem disse que a vacina, poderia, de fato, dar certo? Era uma hipótese e ele não poderia perder uma outra filha para algo incerto. Ele a tira desse hospital, prometendo a ela que, os Vagalumes estavam errados, não daria para ter uma vacina.


Joel, marcado pela perda, constrói muros ao seu redor. Acreditando que ao não se apegar, não poderá ser ferido outra vez. Mas o destino não se importa com as nossas defesas. Ele quebra muros, ele passa por rios, ele enfia outra pessoa na sua vida para que você aprenda. Ellie entra na vida de Joel como um raio de sol em meio às ruínas, e, sem que ele perceba, vai preenchendo os espaços vazios e iluminando os becos escuros. Não é um amor fácil ou imediato, mas é o tipo de amor que cresce em silêncio, nos momentos mais simples – em uma piada ruim, em uma música dividida, em um olhar de cuidado.
Ellie, por outro lado, nasce em um mundo onde o amor sempre vem acompanhado da perda. Ela se apega, apenas para ver as pessoas partirem. Mas, ainda assim, insiste. Segue em frente. Porque, no fim das contas, é isso que fazemos. Perdemos, choramos, nos fechamos. Mas então, em algum momento, encontramos algo – ou alguém – que nos faz tentar de novo.
E talvez seja esse o grande significado de The Last of Us parte 1: não importa quão quebrados estejamos, sempre há um motivo para continuar. Nem sempre o mundo nos dá escolhas justas, nem sempre as respostas são certas ou erradas. Mas enquanto houver alguém por quem valha a pena lutar, seguimos. Porque, no fim, a vida não é sobre sobreviver. É sobre encontrar algo que nos faça querer viver.


Não há um universo possível, que eu não falo desse jogo que marcou minha vida. Desde 2014, quando eu tinha 14 anos eu sou apaixonada por The Last of Us e é claro que eu tive que marcar uma grande parte do meu corpo com uma tatuagem para esse game que mudou a pequena Ellie, do qual eu me apoderei do nome. E que inclusive, me ajudou na descoberta como uma menina lésbica.
Logo, eu trago uma análise da segunda parte do jogo que carrega ainda mais significados.



ellie, já ouviu falar de life is stranger? acho que você vai adorar
EU CHOREI TANTO NESSE JOGO QUE SACO, Ellie realmente herdou um legado muito grande assim como tlou como uma carga emocional e de conhecimento pessoal, a neta de chloe price de life is strange !!!
Texto muito bom serio !!!🩷